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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Oswald de Andrade

(São Paulo, 11 de janeiro de 1890 — São Paulo, 22 de outubro de 1954)
Tupi or not tupi - This is the question
José Oswald de Sousa Andrade nasceu em São Paulo em 1890. Presenciar a virada do século, aos 10 anos, foi marcante, como relembra o poeta já adulto: "Havíamos dobrado a esquina de um século. Entrávamos em 1900... ". São Paulo despertava para a industrialização e a tecnologia. Abria-se um novo mundo urbano, que Oswald logo assimilaria fascinado: o bonde elétrico, o rádio, o cinema, a propaganda com sua linguagem-síntese...
Oswald tinha 22 anos quando fez a primeira de suas várias viagens à Europa, onde entrou em contato com os movimentos de vanguarda, as quais veio a empregar apenas 10 anos depois. De qualquer forma, divulgou o Futurismo e o Cubismo. O terceiro casamento, com Tarsila do Amaral, em 1926, forjou o casal responsável pelo lançamento da Antropofagia. Mário de Andrade os chamava de "Tarsiwald"... Com Tarsila voltou à Europa algumas vezes.
A crise econômica de 29 abalou as finanças do escritor. Com os problemas somando-se nos mais diversos planos de sua vida, vem a separação de Tarsila, seguida de uma nova relação, com Patrícia Galvão, a Pagu, escritora comunista. Oswald passou a participar de reuniões operárias e ingressou no Partido Comunista. Separado de Pagu, teve ainda outras relações e casamentos.
Nenhum outro escritor do Modernismo ficou mais conhecido pelo espírito irreverente e combativo do que Oswald de Andrade, sendo sua atuação intelectual é considerada fundamental na cultura brasileira do início do século. A obra literária de Oswald apresenta exemplarmente as características do Modernismo da primeira fase:
* Em Pau-Brasil, põe em prática as propostas do manifesto do mesmo nome. Na primeira parte do livro, "História do Brasil", Oswald recupera documentos da nossa literatura de informação, dando-lhe um vigor poético surpreendente.
* Na segunda parte de Pau-Brasil - "Poemas da colonização" -, o escritor revê alguns momentos de nossa época colonial. O que mais chama a atenção nesses poemas é o poder de síntese do autor. No Pau-Brasil há ainda a descrição da paisagem brasileira, de cenas do cotidiano, além de poemas metalinguísticos.
* A poesia de Oswald é precursora do Concretismo, que marcaria a poesia brasileira da década de 60. Suas idéias, recuperadas também na década de 60, reaparecem com roupagem nova no Tropicalismo.
* Em Memórias sentimentais de João Miramar o autor chama a atenção pela linguagem e pela montagem inédita. O romance apresenta uma técnica de composição revolucionária, se comparado aos romances tradicionais: são 163 episódios numerados e intitulados, que constituem capítulos-relâmpago - tudo muito influenciado pela linguagem do cinema. É como um diário que expõe pequenas questões e cenas cotidianas de forma simples e sucinta. Cada episódio narra, com ironia e humor, um fragmento da vida de Miramar. "Recorte, colagem, montagem", conforme Décio Pignatari. O material narrativo segue esta ordem: infância de Miramar, adolescência e viagem à Europa a bordo do navio Marta; regresso ao Brasil, motivado pela morte da mãe; casamento com Célia, e um romance paralelo com a atriz Rocambola; nascimento da filha; divórcio e morte de Célia; falência de Miramar.
Principais Obras:
Poesia: Pau-Brasil (1925); Primeiro caderno do aluno de poesia Oswald de Andrade (1927); Cântico dos cânticos para flauta e violão (1945); O escaravelho de ouro (1945).
Romance: Os condenados (trilogia) (1922-34); Memórias sentimentais de João Miramar (l924); Serafim Ponte Grande (1933); Marco Zero - a revolução melancólica (1943).
Teatro: O homem e o cavalo (1934); A mona (1937); O rei da vela (1933).
Além disso, publicou os manifestos: Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924); Manifesto Antropófago (1928). Escreveu ainda artigos e ensaios.
Canto de Regresso à Patria
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os pássaros daqui
Não cantam como os de lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para São Paulo
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
Brasil
O Zé Pereira chegou de caravela
E preguntou pro guarani da mata virgem
— Sois cristão?
— Não. Sou bravo, sou forte, sou filho da Morte
Teterê Tetê Quizá Quizá Quecê!
Lá longe a onça resmungava Uu! ua! uu!
O negro zonzo saído da fornalha
Tomou a palavra e respondeu
— Sim pela graça de Deus
Canhém Babá Canhém Babá Cum Cum!
E fizeram o Carnaval
Erro de português
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português
Oswald de Andrade participou ativamente da Semana de Arte Moderna de 1922, evento que teve a função simbólica de construir a identidade cultural brasileira, procurava uma espécie de alma nacional.
Na sua busca por um caráter nacional (ou falta dele, que Mário de Andrade mostra em Macunaíma),Oswald foi muito além do pensamento romântico, diferentemente de outros modernistas. Nos anos vinte Oswald voltou-se contra as formas cultas e convencionais da arte. Fossem elas o romance de ideias, o teatro de tese, o naturalismo, o realismo, o racionalismo e o parnasianismo. Interessaram-lhe, sobretudo, as formas de expressão ditas ingênuas, primitivas, ou um certo abstracionismo geométrico latente, a recuperação de elementos locais, aliados ao progresso da técnica.
Oswald encantou-se ao perceber, em uma de suas viagens à Europa, que a grande literatura tava se transformando a partir de um novo olhar a literaturas ditas menores. Percebeu, então, que o Brasil e toda a sua multiplicidade cultural, desde as variadas culturas indígenas até a cultura negra representavam uma vantagem e que com elas se poderia construir uma identidade e renovar as letras e as artes. Com isso, volta sua arte ao primitivismo e tenta fundir a literatura popular à erudita.
Manifesto da Poesia Pau-Brasil - 1924
O Manifesto da Poesia Pau-Brasil é do mesmo ano que o Manifesto Surrealista de André Breton, o que reforça a tese de que o Brasil acompanhava plenamente o movimento das vanguardas mundiais, deixara de ser um reflexo da literatura portuguesa para manifestar-se autonomamente. Neste momento, Oswald defende uma poesia ingênua no sentido de não contaminada por formas preestabelecidas de pensar e fazer arte. “Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem pesquisa etimológica. Sem ontologia.”
O manifesto desenvolve-se num tom de paródia, de prosa poética. Defende que o Brasil passe a ser uma cultura de exportação, como foi o pau-brasil, que a sua poesia seja um produto cultural que já não deve nada à cultura europeia, podendo, inclusive, influenciá-la. Oswald defende uma poética espontânea e original, as formas de arte estão dominadas pelo espírito da imitação, o naturalismo era uma cópia balofa. "Só não se inventou a máquina de fazer versos — já havia o poeta parnasiano". Afirma assim uma poesia que tem que ser revolucionária. "A poesia existe nos fatos". “O trabalho contra o detalhe naturalista — pela síntese, contra a morbidez romântica. — pelo equilíbrio geômetra, e pelo acabamento técnico, contra a cópia, pela invenção e pela surpresa”.
Criou-se, então, uma espécie de futurismo tropicalista. “Temos a base dupla e presente — a floresta e a escola. A raça crédula e dualista e a geometria, a álgebra e a química logo depois da mamadeira e do chá de erva doce...”
Sem perder o humor e a ingenuidade, o manifesto propõe a descolonização do país por via de um levante popular, e acima de tudo negro.
Manifesto Antropófago - 1928
O Manifesto Antropófago foi publicado no primeiro exemplar da Revista de Antropofagia. Os exemplares desta publicação eram numerados como primeira dentição, segunda dentição...
Trata-se de uma síntese de alguns pensamentos do autor sobre o Modernismo Brasileiro. Inspirou-se explicitamente em Marx, Freud, André Breton, Montaigne e Rousseau e atacava explicitamente a missionação, a herança portuguesa e o padre Antônio Vieira: "Antes de os portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade"; Contra Goethe, símbolo da cultura clássica européia. Neste sentido, assina o manifesto como tendo sido escrito em Piratininga, nome indígena de local que se tornou São Paulo, datando-o como ano 374, da Deglutição do Bispo Sardinha, o que denota uma recusa radical, simbólica e humorística do calendário gregoriano vigente.
Há no manifesto a ideia da antropofagia, queestá relacionada ao papel simbólico do canibalismo nas sociedades tribais/tradicionais. O canibal nunca come um ser humano por nutrição, mas para absorver as qualidades do inimigo. Assim, o canibalismo é interpretado como uma forma de veneração do inimigo. Se o inimigo tem valor então tem interesse para ser comido porque assim o canibal torna-se mais forte. Oswald atualiza este conceito mostrando que a cultura brasileira é mais forte, embora colonizada pelo europeu o digere, tornando-se, portanto, superior a ele: "Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chamava-se Galli Matias. Comi-o."
Outra ideia avançada é de que a maior das revoluções se realizará no Brasil: "Queremos a revolução Caraíba."
Juntamente com a antropofagia, Oswald recusava, metaforicamente, as regiões que deram origem ao cristianismo. Defendendo as religiões indígenas e a sua relação direta com as forças cósmicas.
O manifesto retoma as ideias de Totem e Tabu, expressas por Freud, em 1912. Segundo Freud, o Pai da tribo teria sido morto e comido pelos filhos e posteriormente divinizado. Tornado Totem e por isso mesmo sagrado, consequentemente criaram-se interdições à sua volta.
"Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem." A antropofagia par Oswald, é uma inversão do mito do bom selvagem de Rousseau, que era puro, inocente, edênico. O índio passa a ser mau e esperto, porque ao canibalizar o estrangeiro, digere-o, torna-o parte da sua carne. O Brasil é, portanto, um país canibal, subvertendo a relação colonizador (ativo)/colonizado (passivo). Ao digerir o colonizador, não é a cultura ocidental, portuguesa, europeia, branca que ocupa o Brasil, mas é o índio que digere tudo o que lhe chega, e ao digerir e absorver as qualidades dos estrangeiros fica melhor, mais forte e torna-se brasileiro.
Nessa perspectiva, o Manifesto Antropófago, embora nacionalista, não é xenófobo, mas é xenofágico: "Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago."
Ainda que incompletas, vale a pena ver os vídeos de Antonio Candido em que fala um pouco sobre literatura, crítica e Oswald de Andrade:

1 comentários:

Patrícia disse...

Oswaldo de Andrade é tudo como escritor, já a vida amorosa não gosto. Trocal Tarsila pela Pagu, foi o pior dos erros.Bj, Clau

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